Viajar

A Rota do Vinho, no Vale do Colchágua

O ar seco, o céu de brigadeiro e as noites frescas do Vale do Colchagua são um convite a saborear, em qualquer hora do dia ou da noite, o que a região central do Chile produz de melhor: vinhos. Esta é de verdade uma viagem para beber. E comer. O trajeto de carro a partir de Santiago dura cerca de três horas. Mais da metade do percurso de 177 quilômetros é por estradas duplicadas e mesmo nos trechos de pista simples as rodovias, pedagiadas, estão sempre em excelente estado. A paisagem meio desértica aos poucos vai se pintando com o verde das oliveiras e das videiras, que no começo de março estão carregadas de uvas à espera da colheita.

Plantações fartas a perder de vista só confirmam o que os especialistas dizem sobre os terroirs chilenos. Mas pra ter certeza de que os vinhos são realmente bons é preciso tomá-los.

A cidade de Santa Cruz é o ponto de partida para degustar as produções da Rota do Vinho — são 13 vinícolas na região — e onde ocorre a festa da vindima.

É possível encontrar todo tipo de hospedagem: aluguel de apartamento de curta duração, hostel, pousada e hotéis sofisticados, normalmente localizados nas próprias vinícolas. Minha opção foi locar um apartamento de sexta-feira a domingo pelo Booking. Se quiser ir na época do evento, em março, reserve com antecedência. A cidade de 33 mil habitantes ferve neste período.

O bacana de alugar um apartamento é o contato direto com o proprietário do imóvel e as dicas úteis de quem vive na região, o que torna a experiência em um lugar novo bem mais interessante. Embarquei com desejo de visitar vinícolas sobre as quais havia lido e pesquisado na internet, mas foi só ao chegar em Santa Cruz que soube que duas das que eu havia listado não aceitavam crianças. A informação veio justamente do californiano dono da acomodação onde fiquei. Como minha estadia em Santa Cruz durou apenas três dias, a programação foi basicamente ir à festa e às vinícolas.

Festa da Vindima

O evento é gratuito, ocorre anualmente em março e reúne ao redor da Praça das Armas de Santa Cruz as 13 vinícolas da região. Há apresentações típicas e uma infinidade de rótulos para experimentar desde a manhã até a noite. Antes de começar a beber é preciso comprar a taça. Há duas opções: uma para degustação de vinhos comuns e outra para os da linha premium. A primeira custa 5 mil pesos chilenos (R$ 25) e a segunda 10 mil pesos (R$ 50).

Em ambos os casos o visitante recebe um cartão com quatro tíquetes para degustação. Importante: para provar alguns vinhos premium é preciso dar até quatro tíquetes. Com a taça em mãos é possível comprar depois só os tíquetes. Na hora de degustar minhas escolhas foram aleatórias. Optei pelas minhas uvas preferidas e por vinícolas sobre as quais já tinha me informado. Mas também escolhi vinhos que desconhecia. O carmenère Siegel, por exemplo, foi uma grata surpresa.

Apesar da presença na festa de bebidas cujas garrafas custam perto de R$ 500, trata-se de um evento um tanto rústico. Em vez de menu gourmet para acompanhar os vinhos ícones do Chile, as barraquinhas de comida têm no cardápio espetinho de carne, frango, javali e até choripã (espécie de pão francês recheado com linguiça). Uma combinação simpática para uma festa onde as pessoas circulam com taças e garrafas nas mãos e, quando faltam mesas, sentam-se no meio-fio para comer e beber.
Na programação entram apresentações típicas, há uma área para crianças com brinquedos infláveis e outra para as tendas com artesanato e artigos chilenos. Tudo simples e agradável, como as férias devem ser.

Visita às vinícolas

Como pude experimentar diversos vinhos diretamente na festa da vindima, escolhi apenas uma vinícola para fazer o tour pelas plantações de uva e com degustação. A visita à Viu Manent é um convite a contemplar o cenário, os pratos saborosos do restaurante Rayuela Wine & Grill e, é claro, as uvas e os vinhos. Bem em frente ao estacionamento, videiras carregadas de fruta atiçam o paladar. Foram plantadas justamente para serem saboreadas pelos visitantes e podem ser levadas para casa ao final da visita. Minha primeira etapa na vinícola foi o almoço. Entre os pratos que pedimos, camarões a pil pil, salmão grelhado, cordeiro e filé mingon a los pobres (cebolas caramelizadas, batata frita e ovos), além de saladas verdes. Tudo extremamente saboroso, num espaço que une o rústico ao sofisticado. Quem faz reserva tem opção de almoçar sob videiras. O cenário é de provocar suspiros.

Após o almoço (R$ 230 para dois, com vinho incluído), a visita à vinícola começa por uma sala com fotografias e objetos antigos que contam a história da propriedade e da empresa e segue para uma área onde estão plantados todos os tipos de uva da vinícola. É possível experimentá-las e comparar suas características. Depois é hora de embarcar em uma charrete e passear pelas plantações. O guia explica sobre o plantio e a colheita. A próxima parada é na área de produção e armazenamento do vinho, onde o guia nos permite degustar uma taça de pinot noir que ainda não está pronto para o consumo. Ele explica o processo de produção da bebida e a diferença entre os barris de armazenamento.

Mais um passeio de charrete e chegamos à sala de degustação. Nada de experimentar os vinhos em pé, como ocorre em algumas vinícolas. Na Viu Manent há salas com mesas longas e cadeiras para acomodar os visitantes. Há sempre água e biscoitos salgados para limpar o paladar entre uma prova e outra. A cada uma das cinco degustações o guia fala das características e peculiaridades das bebidas. A visita de quase duas horas custa R$ 75 e termina normalmente na loja, onde todos os rótulos estão à venda. Se você não se importar em carregar peso, vale a pena comprar algumas garrafas.

Antes de contratar o tour da Viu Manent, fiz uma rápida visita a outras duas vinícolas: Mont Grass e Lapostolle. A Mont Gras recebe os visitantes em um casarão lindo típico de fazendas, com portas e janelas amarelas. Nesta casa há uma espécie de pátio interno, onde funciona o restaurante. As áreas plantadas começam bem próximas à casa e é justamente no gramado verde em frente à construção que é feita a degustação. Um encanto! A Lapostolle fica mais afastada da área central de Santa Cruz, mas o preço da visitação é praticamente o mesmo: 15 mil pesos chilenos (R$ 75). Dentro dos muros altos repleto de plantações verdes há a área de produção e um hotel com bistrô. Está entre as mais sofisticadas da região, no entanto, não aceita crianças.

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